
O mundo fora da casa é um país que vive na impassibilidade das regras estabelecidas, arrastado pela inércia, depurado pelas prisões, embalado pela literatura. Mas eis que chegam os invasores e, com eles, a escuridão absurda que a barbárie daquela civilização já não sabe como encarar nem combater.
A casa transforma-se então num asilo de seres mutilados, violados, brutalizados quotidianamente. Mas é também, ainda, um jardim: um jardim de infância dos filhos dos invasores. Amputado na sua capacidade de escrever, sonhar e amar, o escritor é salvo da morte em vida apenas pela força amorosa das crianças, transportado para o absoluto pelo manto unificador da podridão que se abate sobre todos os humanos, invasores e invadidos.”
Neste romance José Luís Peixoto consegue criar um mundo completamente diferente do que conhecemos onde a música se torna uma descoberta, começando com uma esperança inabalável e terminando de uma forma trágica, mas mesmo assim divinal. Ao ler Uma Casa na Escuridão confundimos prosa com poesia, pois Peixoto dá uma “sonoridade” única em cada frase.

Eduardo Prado Coelho, Público, Mil Folhas
2 comentários:
"Uma Casa na Escuridão" foi me dado a conhecer por uma amiga, posso chamar-lhe assim,de uma forma um tanto ou quanto apaixonada. Desculpa a expressão se não se adequar! confesso que o facto de conhecer alguém que fala com tanto extase e amor das obras de José Luis Peixoto, fez-me querer ler uma, pelo menos uma para te poder compreender. Do que pude perceber todas as suas obras são únicas e inegualáveis para ti, não há comparação entre José Peixoto e outro escritor de renome... foi isso que me fez ir à procura de um escritor que me deixasse realmente presa às suas obras, quem sabe se não será José Luis Peixoto?
Explicação da eternidade
devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os intantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
"A casa, A escuridao" José Luís Peixoto
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